O século da informação: da ciência clássica às mudanças do pensamento do séxulo XX
- Thayane Salgado
- 21 de jan. de 2016
- 5 min de leitura

Fonte: Google
A ciência do século XX inicia com o pensamento tradicional, ainda radicado nas ideias mecaniscistas, no determinismo, na racionalidade, na experimentação e no pensamento linear pautado em uma lógica binária.
Foi com Descartes que a racionalidade foi matematizada, simplificada ao modelo mensurável. O pensamento moderno foi ambisioso ao aplicar as noções da ciência tradicional a todos os domínios do mundo, sejam as ciências ou mesmo o mundo social, onde regiam a ordem e a medida (VASCONCELLOS, 2002).
Assim, o método para a busca do conhecimento passou a ser o Método Científico, baseado em observações e deduções, que poderia ser aplicado a tudo, considerado universal. O método era analítico, fazendo uma separação e simplificação do todo em partes mínimas para obtenção da verdade (COSTA, 2012).
É Descartes que introduz a noção de dualidade ontológica da relação entre o pensamento e o ser, separando mente e corpo e, consequentemente, filosofia e ciência. Como resultado, o paradigma da ciência tradicional também era conhecido a partir do paradigma cartesiano ou newtoniano, pelas descoberdas da física que comparavam o mundo a uma máquina, sendo o mundo regido por tais leis (VASCONCELLOS, 2002).
Essa raíz epistemológica, que tem origem cerca de quatro séculos atrás, influenciou significativamente a forma de compreender o ser humano e a problemática humana, dificuldades que perduram até os dias de hoje.
A ciência tradiconal, então, descrevia um mundo regrado, previsível e de ordem. Segundo Vasconcellos (1995, p.37), alguns conceitos delimitadam a ciência da época, a saber: “racionalidade, mecanicismo, objetividade, determinismo, legalidade, atomização, causalidade, verificação emprírica”. Para a autora, as ideias de imutabilidade e do ordenamento rígido aplicadas às ciências, favorecem o entendimento do mundo como cognoscível, possibilitando ao homem buscar princípios que lhe permita o conhecimento e o controle da natureza.
Atribui-se uma posição privilegiada ao cientista que passou a reger a ciência a partir de três pressupostos básicos, interligados entre si: Simplicidade, Estabilidade e Objetividade (MICHEL, 2003).
Para descrever e dominar o funcionamento da natureza, o homem precisa ficar excluído, numa posição de observador de um mundo objetivo e manejável. A objetividade constituía-se como um dos fundamentos científicos que tornava possível a partir de verificações empíricas. Quanto mais o observador se mantém distante, neutro, mais objetiva é a descrição científica (VASCONCELLOS, 1995).
Como observador, o homem tentava a todo instante ultrapassar a complexidade natural do mundo, simplificando e categorizando, reduzindo a partes menores e mais fáceis para o entendimento e fragmentando a natureza em leis simples, deterministas e reversíveis, que explicavam o mundo a partir de uma causalidade linear (VASCONCELLOS, 1995).
Como resultado, têm-se uma ciência fragmentada em áreas de conhecimento que não se comunicam e apresentam dificuldades de contribuir interdisciplinarmente. Todo esse processo foi oriundo do momento em que a ciência utilizou a prática experimental em lugar da observação passiva. Para tanto, é preciso retirar o objeto do contexto, como garantia de objetividade, controlando as variáveis em laboratórios, e negligenciando questões intrínsecas a cada situação (MICHEL, 2003).
Isso tornou a ciência matematizável substituindo as questões qualitativas por quantitativas, afastando da sociedade e impondo um conflito entre a tradução animista (que abrange o conhecimento de verdade) e a ideia de conhecimento objetivo (MONOD, 1970). Esse momento apresentava-se como o “Paradigma da Simplificação” (MORIN, 1982). Os sistemas complexos eram analisados por partes isolados e, assim, eram compreendidos como “agregados mecanismo de partes em relações causais isoladas uma das outras” (VASCONCELOS, 1995, p.39). Para Lazb (1972) essa forma de estudo apresenta dados importantes sobre interações específicas, auxiliando no desenvolvimento de técnicas para manipulação deles.
Para MORIN (1983), existem dois efeitos da simplificação: i) operação disjuntiva que separa tudo, categorias, objeto do meio, a biológica do homem, entre outros; ii) operação de redução que reduz cada coisa a uma unidade simplificada.
Como a ciência limitava seu modelo a partir do objeto newtoniano, as teorias que não se baseavam em testes experimentais eram descartadas. Isso fez com que as ciências biológicas e sociais ficassem submetidas ao reducionismo e à natureza viva vista em termos mecânicos. Alguns cientistas dessas áreas acabaram migrando para o campo da filosofia, já que era permitida, nesse âmbito, a defesa de ideias diferentes (VASCONCELLOS, 1995).
Dessa forma, as ciências biológicas e sociais foram obrigadas a evoluírem paralelamente ao desenvolvimento da física que obteve sucesso, limitando-se ao modelo restrito da ciência. Contudo, as alternativas encontradas por elas para alcançar seus próprios modelos não foram tão bem sucedidas. Primeiro, tentaram aplicar os conceitos e fundamentos das ciências físicas e químicas às teorias dos fenômenos sociais, o que se provou insatisfatório. Além disso, insistiram em declarar que eram extremamente diferentes da física e da química. Todo esse processo originou uma defesa e preconceito epistemológico que provocou um atraso no conhecimento sobre a sociedade, a vida e a mente (BERTALANFFY, 1967).
Michel (2003, p.5) comenta sobre as consequências da aplicabilidade dos pressupostos da ciência tradicional nos diferentes campos das ciências, principalmente nas ciências humanas:
Levando em consideração a dificuldade das ciências biológicas em adotar os critérios da simplicidade e da estabilidade e ainda, da particular dificuldade das ciências humanas em adotar os três pressupostos da ciência, especialmente o da objetividade, a partir do século XX, pôde-se observar alguns avanços nas três dimensões epistemológicas adotadas pela ciência tradicional, começando a emergir uma ciência novo paradigmática.
Somente com o desenvolvimento da física e sua aceitação da complexidade do mundo, da ideia de auto-organização, da irreversibilidade, dentro outros, parece ter sido autorizado às ciências uma maior discussão sobre as delimitações dos espaços científicos e um avanço das ciências físicas na concepção de universo fechado para universo aberto (PRIGOGINE, 1980).
As descobertas do final do século XIX e meados do século XX favoreceram grandes transformações e influenciaram substancialmente os questionamentos dos paradigmas científicos. Foi no campo da física, com a revolução quântica que tudo começou. Os estudos de Albert Einstein, sobre a Teoria da Relatividade, e de Werner Heisenberg, referente ao Princípio da Incerteza, começaram a revelar que as noções de objetividade precisavam ser revistas (VASCONCELLOS, 1995). Afinal, como pontua Costa (2012), com o estudo de partículas cada vez menores, a verdade absoluta não foi encontrada, mas, sim, o defronte com a complexidade, a instabilidade e a intersubjetividade.
Referências
BERTALANFFY, Ludwig von. Robots, hombres y mentes. La psicologia en el mundo moderno. Madri: Ediciones Guadarrama, 1971.
COSTA, Juarez Soares. Introdução ao pensamento sistêmico. 2012. Disponível em: <http://www.familia.med.br/imagens/file/Introducao%20ao%20Pensamento%20Sistemico.pdf >. Acesso em 09 de junho de 2015.
LASZLO, Ervin. The system view of the world. the natural philosophy of the new developments in the sciences. Nova Iorque: George Braziller, 1972.
MICHEL, Carol Evelyn Streithorst. A teoria sistêmica e suas transformações: uma leitura de paradigmas das ciências. In Módulo: Paradigma sistêmico. Programa de Pós-graduação em Psicologia Conjugal e Familiar, da Faculdade Ruy Barbosa. Salvador, 2003.
MONOD, Jacques. O acaso e a necessidade. Ensaio sobre a filosofia natural da biologia moderna. 2ª edição, Lisboa: Publicações Europa-América, s. d. Original Francês, 1970.
MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Lisboa: Publicações Europa-América, s. d. Original Francês, 1982.
PRIGOGINE, Ilya. In ELKAÏM, Mony et al. Openness: a round-table discussion. Family Process, Nova Iorque, vol. 21, nº 1, pp. 57-70, março de 1982. Mesa redonda realizada em Bruxelas. Publicado originalmente in Cahiers Critiques de Thérapia Familiale et de Pratiques de Réseaux, Bruxelas, nº 3, pp. 7-17, dezembro de 1980.
VASCONCELLOS, Maria José Esteves de. Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. Campinas: Papirus, 2002.
______. Terapia familia sistêmica: bases cibernéticas. Campinas: Editorial Psy, 1995.
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